São Tomé e Príncipe, 46 anos “in debt” e “in-depth(endente)”

1

Colónia não; País, sim

“Govéno non xigá zá…!”

contava-nos assim a nossa avó Petiza

no meio da fumaça e das cinzas

da sua bendita e digna pobreza.

Os contos não eram sobre as realezas

mas tinham as suas beleza e nobreza

e nos agradava a todos, com certeza.

Hoje, apesar da pandemia e da fraqueza

brado, aqui, sem gentileza

este sentimento que ainda habita em mim

porque a luta ainda não chegou ao fim.

Vamos falar do país (in)dependente

onde quase tudo está pendente

excepto a corrida ao cargo de presidente;

este, que não passará de mais um pedinte

Vamos falar do hino e do hastear da bandeira

mas também do vigor do tecido sobre a pedra,

da falta de água na torneira,

da brigada governamental pela estrada

e das eleições que nunca se ganha;

das ondas das praias onde se banha

os verdadeiros banhos de antigamente

que nos deixavam limpos o corpo e a mente;

não os de hoje, que deixam mais sujos

aqueles que dependem de outros “gajos

Hoje, o que mais lamento e não aguento

é, ironicamente, o (ridículo) parlamento

onde corre lama por todo o pavimento

apesar de ser feito de cimento

Precisamos de muita prece

para os males que o país padece;

mas, a fé nos carece,

o sentimento empobrece

e há muita gente que não merece…

2

País, não; Terra, sim!

Vamos, então, falar da nossa terra

da sua beleza, da sua história

e das coisas lindas da nossa era;

dos versos, da prosa, e poesia;

da marginal, da avenida sem vida…

do Céu, do ar e de toda a maresia;

das meninas e também do SIDA

Enfim, falemos de tudo sem hipocrisia

porque nem tudo é maravilha

É dessa terra que hoje vamos falar,

não somente dos seus adornos

mas de todo resto dentro do contorno,

do pernicioso que não perde o sono,

do preguiçoso que dela quer ser dono

Colono!

Vamos falar da confiança que morre

e da água que não corre…

A água do rio que rasga a cidade,

não é nenhuma novidade

Os chafarizes nas localidades

é um dever, e não caridade

E este povo que é sofredor de verdade,

sem nenhuma sobriedade,

aplaude os políticos sem capacidade

de oferecer justiça à sociedade;

os mesmos que o castigam sem piedade

Cobardes!

Não se emendam apesar da idade

Seus cargos não passam de vaidade

Fazem maldade em toda localidade

Cometem crimes e invocam a impunidade

Enganam e disparam à toa

que é uma desgraça

Mas ainda há gente boa

e há esperança

3

Terra, não; Ilhas, sim!

Vamos falar das nossas Ilhas,

dos cantos dos pássaros em cada canto,

dos pratos e sabores para todos os gostos

Os tachos de comida, vazios

outros tachos, cheios de vadios

que nunca pagam impostos

e almejam altos postos

O povo clama pela nova revolução

porque o João da oposição só come pão

graças à família na emigração

ou ao parente que é ladrão;

Ladrão visível que veste fato

e é incrível no seu furtivo acto!

Enquanto ia o José atrás do mel

o Miguel fingia um ar de fiel

mas a esperança estava apenas no Manel

por ter-se dado bem com a caneta e o papel

No final, ficou no paladar somente o fel

e todo o ideal almejado se esvaeceu

Mas então, o que nos aconteceu?

O ministro, enlouqueceu?

O presidente, adormeceu?

Não! O povo se esqueceu!

4

Ilhas, não; Arquipélago, sim!

As roças estão cheias de rochas e capins

Não florescem rosas, tulipas nem jasmins

Deixemo-las assim, abandonadas

Servindo de pastos para toda a manada,

Como disse uma vez o senhor Pedro:

Esta terra não é p’rá vinha nem cedro

Este país está agora entregue aos pretos

Tenho (é) pena dos meus netos…

Pretos não; negros, sim!

Viva a Independência Nacional; Viva São Tomé e Príncipe!!!