1
Colónia não; País, sim
“Govéno non xigá zá…!”
contava-nos assim a nossa avó Petiza
no meio da fumaça e das cinzas
da sua bendita e digna pobreza.
Os contos não eram sobre as realezas
mas tinham as suas beleza e nobreza
e nos agradava a todos, com certeza.
Hoje, apesar da pandemia e da fraqueza
brado, aqui, sem gentileza
este sentimento que ainda habita em mim
porque a luta ainda não chegou ao fim.
Vamos falar do país (in)dependente
onde quase tudo está pendente
excepto a corrida ao cargo de presidente;
este, que não passará de mais um pedinte
Vamos falar do hino e do hastear da bandeira
mas também do vigor do tecido sobre a pedra,
da falta de água na torneira,
da brigada governamental pela estrada
e das eleições que nunca se ganha;
das ondas das praias onde se banha
os verdadeiros banhos de antigamente
que nos deixavam limpos o corpo e a mente;
não os de hoje, que deixam mais sujos
aqueles que dependem de outros “gajos“
Hoje, o que mais lamento e não aguento
é, ironicamente, o (ridículo) parlamento
onde corre lama por todo o pavimento
apesar de ser feito de cimento
Precisamos de muita prece
para os males que o país padece;
mas, a fé nos carece,
o sentimento empobrece
e há muita gente que não merece…
2
País, não; Terra, sim!
Vamos, então, falar da nossa terra
da sua beleza, da sua história
e das coisas lindas da nossa era;
dos versos, da prosa, e poesia;
da marginal, da avenida sem vida…
do Céu, do ar e de toda a maresia;
das meninas e também do SIDA
Enfim, falemos de tudo sem hipocrisia
porque nem tudo é maravilha
É dessa terra que hoje vamos falar,
não somente dos seus adornos
mas de todo resto dentro do contorno,
do pernicioso que não perde o sono,
do preguiçoso que dela quer ser dono
Colono!
Vamos falar da confiança que morre
e da água que não corre…
A água do rio que rasga a cidade,
não é nenhuma novidade
Os chafarizes nas localidades
é um dever, e não caridade
E este povo que é sofredor de verdade,
sem nenhuma sobriedade,
aplaude os políticos sem capacidade
de oferecer justiça à sociedade;
os mesmos que o castigam sem piedade
Cobardes!
Não se emendam apesar da idade
Seus cargos não passam de vaidade
Fazem maldade em toda localidade
Cometem crimes e invocam a impunidade
Enganam e disparam à toa
que é uma desgraça
Mas ainda há gente boa
e há esperança
3
Terra, não; Ilhas, sim!
Vamos falar das nossas Ilhas,
dos cantos dos pássaros em cada canto,
dos pratos e sabores para todos os gostos
Os tachos de comida, vazios
outros tachos, cheios de vadios
que nunca pagam impostos
e almejam altos postos
O povo clama pela nova revolução
porque o João da oposição só come pão
graças à família na emigração
ou ao parente que é ladrão;
Ladrão visível que veste fato
e é incrível no seu furtivo acto!
Enquanto ia o José atrás do mel
o Miguel fingia um ar de fiel
mas a esperança estava apenas no Manel
por ter-se dado bem com a caneta e o papel
No final, ficou no paladar somente o fel
e todo o ideal almejado se esvaeceu
Mas então, o que nos aconteceu?
O ministro, enlouqueceu?
O presidente, adormeceu?
Não! O povo se esqueceu!
4
Ilhas, não; Arquipélago, sim!
As roças estão cheias de rochas e capins
Não florescem rosas, tulipas nem jasmins
Deixemo-las assim, abandonadas
Servindo de pastos para toda a manada,
Como disse uma vez o senhor Pedro:
Esta terra não é p’rá vinha nem cedro
Este país está agora entregue aos pretos
Tenho (é) pena dos meus netos…
Pretos não; negros, sim!
Viva a Independência Nacional; Viva São Tomé e Príncipe!!!